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sábado, 12 de março de 2011

O homem e o frio

O homem sozinho na rua não está só. Ao relento se explica a solidão. A única que cura, que dói e purifica ao mesmo tempo. De vento em vento que sopra, vai-se embora cada fragmento da dor,e abastece a alma de um frio pálido e docemente cruel. Ah, como é bom o frio que envolve e congela. Da alma impura nasce a solidão gelada, que corrói de forma vívida e sagaz. Andando um pouco mais por noturnos becos inundados, solados rebatem contra o cascalho duro de um mundo cruel. Quanto mas se foge, mas se entranha. E o homem não recua jamais. Devagar, como se precisasse sentir a dor, as lágrimas já não suportam segurar-se na alma, fogem delicadamente pelos olhos, congelam no frio da noite e assim precipitam sobre os cascalhos da rua. Igualmente frios. Daí choveu. Sabe-se apenas que o homem sofria. A magnitude de seu sofrimento, sim, era vista. Para a grande maioria dos poucos que viram na rua o homem sozinho, achavam que estar ali só propagava no peito ainda mais desacordo, sofrer. Gente do tipo que não entende que o frio da noite e o gelado da chuva até doem, mas não há remédio melhor. Gente do tipo que não entende que nada é mais puro que o frio. E acham loucura procurar solidão, que assim só se faz afundar em melancolia, tristeza. Porque, se tanto dói? E elas param por aí em busca de seus bel-prazeres. Não conseguem enxergar algo fácil de ver. Só se da valor para as coisas perdidas. só quem experimenta o mais frio e mortal sentimento pode de fato, dar valor a qualquer vestígio de amor, e assim, ser um alguém mais valoroso. Sabendo disse, o homem continua nas ruas em busca do seu puro pesar: o tremulento frio que machuca a alma e cura as dores de quem busca o calor. Tão importante quanto viver, tão valioso quanto respirar.

(Alana Nogueira)

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